Novo presidente da mineradora, que assume o cargo nesta sexta em lugar de Roger Agnelli, terá o desafio de equilibrar as cobranças dos investidores com os interesses do governo
Mônica Ciarelli, de O Estado de S. Paulo
RIO - A era Roger Agnelli na Vale, que durou uma década, termina nesta sexta-feira, 20, quando o executivo passar o cargo de presidente da segunda maior mineradora do mundo para o mineiro Murilo Ferreira. Com a cadeira, o executivo herda a delicada tarefa de satisfazer os interesses dos investidores e do governo, que teve influência direta no afastamento do seu antecessor.
RIO - A era Roger Agnelli na Vale, que durou uma década, termina nesta sexta-feira, 20, quando o executivo passar o cargo de presidente da segunda maior mineradora do mundo para o mineiro Murilo Ferreira. Com a cadeira, o executivo herda a delicada tarefa de satisfazer os interesses dos investidores e do governo, que teve influência direta no afastamento do seu antecessor.
A pessoas próximas, Ferreira tem dito que pretende buscar uma gestão mais descentralizada da empresa, mudando o estilo de comando a que a empresa havia se acostumado com Agnelli, tido como um executivo mais centralizador. Quem já trabalhou com Ferreira diz que sua postura é a de delegar poderes, sem deixar de acompanhar de perto todas as etapas dos principais projetos.
Apesar de assumir uma empresa altamente lucrativa (foram R$ 11,2 bilhões só no primeiro trimestre), e com um ambicioso plano de investimentos, que chega a US$ 24 bilhões para este ano, Ferreira sabe dos desafios que o esperam. "O principal desafio do Murilo Ferreira será reconquistar os investidores. Provar que não vai se curvar ao governo", afirmou o chefe da área de análise da gestora de recursos Modal, Eduardo Roche.
Até o momento, a longa experiência do executivo no setor - ele trabalhava na própria Vale até 2009 - ainda não aplacou o temor de uma maior ingerência política nas decisões da mineradora, priorizando o desenvolvimento social acima dos lucros. A União está no bloco de controle da Vale diretamente, por meio do BNDESPar, o braço de participações do BNDES, e indiretamente, pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.
"A relação entre o governo e as mineradoras sempre foi muito grande. O problema agora é que qualquer movimento pode ser interpretado como ingerência política", disse Pedro Galdi, chefe do departamento de análise da corretora SLW. Para ele, Ferreira vai pegar uma empresa bem financeiramente e com projetos que vão permiti-la dobrar de tamanho em cinco anos. Para Galdi, a maior dificuldade será a Vale provar aos investidores que seus planos têm como foco principal seu crescimento.
Relações. Além de reconquistar acionistas, Murilo também terá de reconstruir as relações entre a Vale e o governo, que ficaram estremecidas nos últimos dois anos, principalmente após a demissão de quase 2 mil empregados, em 2008, em meio à crise financeira global, que afetou diretamente o setor de commodities. O desafio de Ferreira passa por dois temas: os investimentos no setor siderúrgico e os royalties da mineração.
Os investimentos em siderurgia, no entanto, não são vistos com bons olhos pelo mercado. Para ganhar respaldo entre os investidores, portanto, o novo comandante da mineradora terá de conter a pressão governamental para envolver a Vale em projetos siderúrgicos.
Popular entre políticos, por criar muitos empregos e ser um produto com maior valor agregado em relação ao minério, o segmento oferece um retorno baixo para a Vale, que consegue margens muito melhores na comercialização do minério de ferro, insumo que teve seu preço reajustado em mais de 100% no ano passado. Roger Agnelli chegou a dizer que não gostaria de se tornar um concorrente dos seus próprios clientes.
Outro desafio de Murilo Ferreira será buscar uma saída rápida - e que agrade ao governo e aos acionistas - para a disputa relacionada a uma dívida de royalties de mineração. O processo se arrasta desde 1991, mas, veio à tona este ano, durante as especulações em torno do interesse do governo na saída de Agnelli da presidência da Vale.
O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) cobra uma dívida de R$ 4 bilhões relativa aos royalties sobre o minério extraído das minas da companhia no Complexo Carajás, no Pará. A empresa alega que a cobrança é irregular.
Além desse imbróglio, Ferreira terá de se posicionar ainda sobre outro ponto polêmico: o pleito de vários municípios mineradores, que exigem um aumento na alíquota dos royalties da mineração, que, hoje, está em 2% sobre as vendas do minério.
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